Apêndice F

Apêndice F

 

Uma Análise Inteligente e Bem Humorada do Livro “A Trindade”

 

Por Tales Fonseca

 

1) "Os Teólogos, Autores do Livro A Trindade, Só Podem Estar Brincando"

 

Antônio Rodrigues estudava Química na UFRJ. Muito inteligente, mente científica, era ateu. Além de não acreditar em Deus, considerava os religiosos ignorantes e merecedores de um tipo de piedade intelectual. A convite do Ner, seu colega de turma na faculdade, foi visitar o IPAE, em Petrópolis-RJ.

Após o almoço (na minha casa), o assunto convergiu para a crença em Deus. Eu era menino, e assistia com interesse o debate. Estavam presentes, além do seu colega, dois Pastores, sendo que um também era formado em Latim e Grego, e o outro, estudava Filosofia. O cético Antônio encontrou-se, pois, entre pessoas cultas – porém, crentes. Aproveitando que não precisava ter pena de ninguém ali, lançou o desafio:

-- As pessoas que crêem em Deus não examinam o assunto corretamente. Crer em Deus é um tipo de ignorância – isto é, desconhecimento de causa e falta de lógica. Se estudarmos o tema sem preconceitos, não há como continuar crendo em Deus.

O desafio foi aceito. Assim, durante várias tardes de Sábado, ele subia a serra para tentar convencer os amigos que a crença em Deus é incompatível com a razão e a lógica.

Alguns meses depois, foi batizado. Mais tarde, tornou-se obreiro, professor de Química no IPAE. Um ótimo professor e autêntico cristão.

No século XVI, o doutor Michael Bajus, eminentíssimo teólogo da antiga e famosa Universidade de Lovaina, resolveu fazer uma refutação bem fundamentada contra as idéias reformistas de Calvino. Só que o doutor tanto estudou, que acabou defendendo o ponto de vista dos reformistas, recebendo do Papa uma bula de condenação.

Já ouvi relatos sobre pessoas que se dispuseram a esquadrinhar os escritos de Ellen White para atacar a IASD, e acabaram se tornando adventistas.

Estes exemplos são para chamar a atenção sobre os autores do livro “A Trindade”. Os três, teólogos e doutores da Universidade de Andrews, receberam a incumbência de “responder ao desafio” da “crescente minoria” que “defende uma volta à posição antitrinitariana de muitos pioneiros”, conforme diz a contracapa do livro.

 

Crescente minoria 

 

A primeira vez que vi as idéias desta “crescente minoria” foi no site do Ennis Méier. Não faltou quem o aconselhasse a parar com isso, pois discutir doutrina é coisa para Ph.D. Mas a idéia se espalhou, e logo o Robson começou com esta heresia aqui no “adventistas.com”. Na ocasião, trocamos alguns e-mails raivosos, pois ninguém vai tirar minhas crenças assim de qualquer jeito, sem pedir licença.

No lado da esmagadora maioria há centenas de teólogos inteligentes e dezenas de saudáveis PhDs. No grupo da minoria, só alguns PHDs (Pobres, Humildes e Desnutridos). Vejam o Ricardo Nicotra: magro, cara de menino, sem curso teológico, quer desafiar os doutores da Andrews com seu pequeno livro. Parece até falta de respeito. O Nicotra jamais seria um eminente teólogo, pois lhe falta a principal característica: saber falar as coisas simples de forma complicada. Lendo o que ele escreve, é fácil entender o que está dizendo. Há poucos dias, ouvi uma senhora adventista de 91 anos (nasceu quando Ellen White ainda vivia), ao ler o livro “Eu e o Pai Somos Um”, confidenciar: “até que enfim alguém conseguiu explicar isso de forma clara”.

Os teólogos Woodrow Whidden, Jerry Moon e John Reeve, todos da Universidade Andrews, devem ter pesquisado muito, consultado muitas fontes, meditado. Sua missão era defender a doutrina da Trindade. A questão é: estudando, lendo, pensando... será que eles, como tantas vezes já aconteceu, também não passaram a ter dúvidas, talvez até a descrer?

Eles sabem que discordar da doutrina oficial, no mínimo custaria o emprego. Mas isto não seria nada, comparado ao desdém, o ostracismo, o risco de ser comparado às “ardorosas” e “zelosas” Testemunhas de Jeová, conforme deixam claro na introdução do livro (pág. 9). Por outro lado, é normal querer compartilhar suas descobertas. Diz a lenda que Galileu, já condenado por questionar a verdade teológica que o sol gira ao redor da terra, descobriu as fases de Vênus, mas colocou tal descoberta em um poema, driblando a censura e garantindo seu lugar na história.

Mas, de que forma eles, ou ao menos um deles, colocaria no livro evidências de que não crêem? Teriam deixado pistas? Mensagens escondidas? Teriam de escrever de tal modo que os editores não percebessem...

Pois então. Creio ter encontrado várias pistas, que, se não provam, sugerem fortemente tal idéia.

O livro é muito bom. É preciso reconhecer o mérito dos autores. Há uma parte histórica, muito agradável de se ler, onde além da narrativa de fatos históricos são feitas correlações interessantes. Por exemplo, na pág. 204, ficamos sabendo que na Transilvânia, hoje parte da Romênia, há mais adventistas que nos outros países da Europa Oriental. Isto, “graças à herança” do grande número de guardadores do Sábado que não criam na Trindade que viviam lá há séculos. Isto facilitou muito a entrada da mensagem adventista, na época que nossa igreja não defendia a doutrina da Trindade.

Outra importante herança da Transilvânia absorvida pela igreja (não citada no livro) foi a conduta estranha de um famoso conde local, de hábitos noturnos, que é imitado por alguns administradores na forma como sugam as doações dos irmãos mais pobres.

 

A primeira pista

 

Uma das maiores dificuldades para fazer alguém crer na doutrina da Trindade, é que ela não é lógica. Três é três, um é um. Não dá para mudar isso, nem espremendo a matemática até sangrar. A doutrina diz: “Há um só Deus. Esse Deus consiste de três Pessoas divinas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo”.

Pronto. Como aceitar isto? Se há um só Deus, não podem ser três, se são três, não há só um. Mas os teólogos são bonzinhos. Eles tentam ajudar:

“Não são três deuses, e sim três Pessoas divinas”, garante o livro {pág. 273).

Se a questão parasse aí, um Deus composto por três pessoas, até daria para conversar. Deus não seria uma pessoa, mas uma entidade, uma empresa, algo assim. Mas, lamentavelmente, após afirmar que não são três Deuses, eles passarão a metade do livro tentando provar que os outros dois, (além do Pai, que ninguém discorda que é Deus) também são Deus. Isto é, são três Deuses.

Se um é Deus, o outro é Deus, e o outro também é Deus, são três. Parem de querer fazer os outros de bobo. E a outra metade do livro, eles gastam tentando provar que o terceiro Deus é uma Pessoa, já que os dois primeiros ninguém questiona que são pessoas. Quer dizer, cada um é Deus, e cada um é uma Pessoa. E são três. Portanto, se são três, não são um.

O triângulo é um triângulo, mas tem três lados. Uma centopéia tem cem pernas, mas é uma centopéia, uma boiada tem mil bois, mas é uma boiada. Mas uma centopéia é uma centopéia, não uma perna. E cada lado do triângulo é um lado, não um triângulo. E não há triângulo de um lado só. Sinto-me ridículo, depois de tantos séculos com milhares de pessoas argumentando este mesmo tema, estar aqui repisando idéias. Mas há uma possibilidade prática de usar este conceito de que não se respeitam mais os números.

Se três e um é a mesma coisa, um time formado por onze jogadores é apenas um time, portanto, se acrescentarmos mais jogadores, vinte, duzentos, dez mil, continua sendo um time. Assim, os técnicos iriam acrescentando tantos jogadores quanto disponíveis. Como os profissionais são poucos, apelar-se-ia para a torcida. Qual time levaria vantagem? O de maior torcida. Quem sabe, então, o Flamengo voltaria a ganhar, poupando-nos de tanto sofrimento...

 

Matemática extravagante 

 

Alguém questionou neste site que às vezes brinco um pouco, o que poderia ser encarado como desrespeito. Não é desrespeito. O humor pode ser usado como forma de argumentar, assim como o xingamento. O doutor José Carlos Ramos chama os que não crêem como ele de “ignorantes”. O Pastor Lessa trata o movimento leigo de “grupo de amargurados”.

Prefiro o bom humor. E não fui eu quem começou a falar de futebol: no livro da Trindade, os autores citam times como exemplo da unidade entre personalidades distintas, já preparando-nos para aceitar a doutrina (pág. 37), e citam Pelé como o representante maior do futebol. (pág. 113). (Dizem que houve protestos em Buenos Aires, aos gritos de “Maradona es el único!)”. Desrespeito é querer enfiar goela abaixo nos outros aquilo que acreditamos, ou querer definir, catalogar e explicar um mistério e depois perseguir os que não concordam.

Mas o problema continua. Para os trinitarianos conseguirem que sua doutrina seja aceita, é absolutamente necessário que provem que sua teoria é lógica. Deus criou o universo com leis inteligentes e lógicas. No livro, há um capítulo (7) chamado “Objeções lógicas à Trindade”. O autor, honesto, admite:

“Os trinitarianos precisam apresentar uma explicação factível e coerente de como podemos logicamente conceber três como um”

 “na vida real e prática, onde vivemos, não toleraríamos tal matemática extravagante: 3=1”.

 “assim, é bastante aceitável que os trinitarianos apresentem alguma descrição coerente para tentar explicar como três são um e um é três na vida da Divindade”.

Enfim, chegamos à parte fundamental do livro, onde será demonstrado que 1+1+1=1. Os doutores nos demonstrarão que esta não foi uma teoria arranjada só para conciliar a existência de mais dois à enorme quantidade de textos afirmando categoricamente que só há um Deus. Aqui, não dá para nos esnobar usando regras de gramática hebraica ou pergaminhos antigos. É explicar que três é igual a um e pronto. Com a palavra, os doutores:

“A primeira resposta à questão da lógica inerente ao pensamento trinitariano” (pausa para um suspense...) “é admitir que estamos lidando com um mistério extremamente profundo”!

Ah, sim! O velho truque do mistério extremamente profundo. Quando não dá para explicar, vira mistério. Mas, apesar da decepção inicial, o capítulo prossegue, longo, complexo, enrolado. Que saudade do livro do Nicotra. Mas darão uma explicação, sim.

E esta começa com I João 4:8. Deus é amor.

 

Até aqui, tudo bem.

 

Depois, o argumento virá na forma de que, se Deus é amor, “o perfeito amor somente é possível entre iguais” (parece slogan daquela gente colorida e alegre). Mas a parte que será usada para nos convencer definitivamente de que três é igual a um, é que Deus, antes de criar o mundo, não tinha ninguém para amar, portanto, precisava haver mais de um para que o amor existisse. “Houve um tempo em que o universo não existia”, e, tentando traduzir o complicado teologuês usado neste capítulo, a seqüência do raciocínio, é que Deus, para ser amor, teria que amar alguém, mas como o universo não havia sido criado, não havia ninguém para ser amado, nem nada para se fazer... então, Deus precisaria...  amar a outro Deus!

Agora, vamos tentar entender de novo. Deus é amor. Isto não se discute. Mas, antes de criar o universo, o que Ele fazia? Amava, pois Ele é amor. Amava a quem, se ninguém existia? Amava a si próprio? Não, isto não é possível. Então, “tanto a inspiração quanto a razão demandam a existência de um Deus triúno, composto de Pai, Filho e Espírito Santo”.

Quando ficamos em um mesmo ambiente por muito tempo, nos acostumamos e passamos a considerar todas as coisas ali como normais. Médicos arrancam tripas e pedaços do fígado com naturalidade, pensando na pizza que comerão ao sair do hospital. Um advogado presente no centro cirúrgico, ao ver tanto sangue espirrando, fica horrorizado, pode até desmaiar. Entretanto, quando é a vez do médico ir à audiência com o juiz, morre de medo, enquanto o advogado conversa com o promotor sobre o jogo de futebol à noite.

Portanto, quando ficamos envolvidos por horas e horas em questões teológicas, também perdemos um pouco da “normalidade”. Assim, podemos deixar passar coisas importantes. No caso, os autores nos induzem a raciocinar em teologuês. A linguagem é pesada, truncada. Mas, o argumento é simples: Deus, antes de criar o universo, não tendo nada para fazer ou ninguém para amar, para ser amor teria que amar outro, ou outros, iguais a si, o que O torna plural, portanto, Ele é três.

 

A maior bobagem

 

E aqui está, finalmente, a primeira pista de que os autores não estão convictos da doutrina que defendem. Pois, se querem convencer a outros, como usariam um argumento tão absurdo, tão absolutamente ridículo? Isto é uma total falta de senso. É a maior bobagem já publicada neste milênio. É para achar engraçado. Eles não podem estar falando sério!

Falei deste argumento para oito pessoas, quatro cultas e quatro menos instruídas, mas todos cem por cento trinitarianos. Não disse que era um argumento para provar a Trindade, pois o medo influi muito no raciocínio. Todos usaram estes adjetivos: “ridículo”, “absurdo”. 

Apesar de atordoados com esta suprema bobagem, é preciso respirar fundo e voltar a pensar como gente normal. Escuta aqui. Eles não iam provar que três é igual a um? Pois é, nem tocaram no assunto. Provar que Deus, para ser amor, precisa ser plural, não tem absolutamente nada, absolutamente nada mesmo, a ver com a questão lógica de três ser igual a um. Aqui, é uma questão matemática. O que eles tentaram provar, com este argumento absurdo, é que há mais de um Deus. Pois bem, se forem dois, serão dois, não um. Se forem três, serão três, não um. Se forem nove, serão nove, não um.

Assim, tivemos nossos melhores teólogos usando seus melhores argumentos, e nem mesmo tocaram na questão lógica. Falaram uma bobagem de forma tão grandiloqüente que ninguém percebeu que se negaram a responder como três pode ser igual a um. E foram além. Criaram uma fantástica fantasia cósmica em cima de um único verso da Bíblia!

Entrando neste mundo encantado, poderíamos perguntar: Deus é poder, Deus é onipotente. Mas, como exercia este poder se nada existia? Um mandava no outro?  Deus é misericordioso. Mas, como usaria sua misericórdia, se ainda não existia ninguém para ser perdoado? Um deles, então, erraria só para o outro perdoar?

Deus é onipresente. Mas onde estaria presente se não havia lugar nenhum ainda criado? Deus é justo. Mas, como exercitaria sua justiça, se nada existia para julgar?

É muita loucura tirar conclusões, definir, medir e explicar Deus, usando apenas um verso fora do contexto! Foi Deus quem disse que “o perfeito amor só existe entre iguais?” Não, foi um homem, Bruce M. Metzger. E o respeitável sr. Bruce é Deus? Não. Foi Deus que disse que antes de criar o universo, não tendo nada para fazer, ficava amando outros Deuses? Não. Foram homens, que, embora importantes, não são Deus. Mas querem dizer mais, ir além do que o próprio Deus disse.

E, se estivessem apenas filosofando, isto seria saudável. Mas, a função prática do livro da Trindade tem sido dar aos líderes da igreja um instrumento para perseguir, humilhar e finalmente, excluir pessoas sinceras, simples, que apenas discordam de uma doutrina. Era obrigação deles dar uma explicação lógica para o 3=1, não criar uma fantasia absurda. Por que teriam feito isso? Ora, eles não estão falando sério. Colocaram esta brincadeira ali para alguém notar que eles não estão assim tão convencidos daquilo que defendem.

O que há de mais insano neste argumento, é que pressupõe um Deus ocioso. Sim, porque, antes de criar o Universo, nada havia para ser feito. E isso não foram apenas duzentos anos, um bilhão de anos, mas eternidade e eternidade e eternidade e eternidade e eternidade para trás...

Interessante é que, na página 110, eles citam João 5:17 e 18: “Mas Ele lhes disse: ‘Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também’”.

Embora se diga que “Deus é Brasileiro” – os autores, americanos, não devem conhecer este ditado. E este seria o único argumento que justificaria pensar em um Deus ocioso. Três Deuses, ou dois, ou vários, que ficariam por incontáveis absurdilhões de anos sem nada para fazer, a não ser um amando o outro... 

Não consigo conceber a idéia de um Deus que não trabalha. João disse que Deus é amor. Jesus disse que Deus trabalha. João não disse que Deus é amor para provar que Deus é múltiplo, mas para dizer que quem não ama não pode conhecê-lo. Jesus disse que Deus trabalha até agora... isto é, já vinha trabalhando antes. Quando começou? Teria, começado a trabalhar só depois do “Big-Bang?” Só começou a trabalhar depois de criar isso que nós, meros mortais, chamamos de universo?

A eternidade ociosa para trás seria eternamente extensa! Muito recentemente, Ele, com seu Filho, esteve ocupado em um pequeno planeta desta galáxia. Trabalhou seis dias e descansou no Sétimo. E o abençoou e o santificou, mas a grande maioria dos renomados e brilhantes teólogos trinitarianos acha que o correto é descansar no primeiro, o dia do Sol, embora já não queimem os que não crêem que é o Sol que gira ao redor da terra.

 

Fantasia de teólogos

 

O tema é a Trindade, mas esta fantasia dos teólogos sobre o que Deus fazia ou como Ele era antes de criar o universo nos desperta a vontade de também sonhar. Porém, este assunto tem sido encarado por ambos os lados como uma guerra, com muita gente sofrendo, muita injustiça, acho melhor não dar minha opinião, pois ela jamais seria outra coisa além de uma opinião.

Tenho respostas razoáveis para as perguntas que formulei. Mas, seria apenas a minha concepção do universo, não sou autoridade. Entretanto, não vejo razão para aceitar como divinas meras opiniões de outros homens, que, embora doutores em divindade, formulam uma explicação dessas sem nem mesmo estarem bêbados. Sim, eles só podem estar brincando.

Há outras pistas de que eles não crêem na Trindade, a mais evidente delas, no capítulo 5. E, há também um pastor brasileiro com grande importância nacional, figura chave para a manutenção da sã doutrina, que deu pista que está mudando de lado. Mas isto fica para a próxima.

 

2) Tá Explicado! A Doutrina da Trindade se Localiza Antes do Gênesis e Depois do Apocalipse

 

(Ou Mais Evidências de que os Teólogos da Andrews Não Crêem na Trindade!)

 

Astrônomos, biólogos, físicos e outros cientistas costumam trabalhar em equipe, e com aparelhos sofisticados e caros. Grandes avanços da ciência em geral envolvem muitos estudiosos e anos de pesquisas. Mesmo assim, pouco se sabe sobre a nossa Terra.

Por isso, é emocionante ver como os doutores em Divindade fazem suas descobertas. Enquanto os cientistas usam aparelhos que custam milhões de dólares para estudar pequena parte do universo, os teólogos da Universidade Andrews vão muito mais longe, sabendo como eram as coisas “antes” da formação do mundo e do universo e como será “depois” que tudo acabar. E o mais assombroso são os instrumentos que usam!

No livro A Trindade, na pág.312, os autores afirmam que “a evidência escriturística é de que a subordinação de Cristo ao Pai e do Espírito Santo a ambos ocorre meramente para propósitos práticos de criação e redenção entre aqueles que, de outra maneira, são iguais em sua natureza divina compartilhada”.

Traduzindo: Jesus é obediente ao Pai e o Espírito Santo obedece aos Dois apenas do Gênesis ao Apocalipse. Antes da criação do Universo, e depois, quando tudo terminar, as coisas seriam diferentes, isto é, o Líder-Chefe (pág.309), o Leão/Cordeiro (págs. 94-96) e o Rio (págs 100-102), seriam absolutamente iguais, sem hierarquia. Vamos explicar de novo.

Segundo os teólogos, de acordo com suas descobertas, esta convenção de primeira, segunda e terceira pessoas da Trindade, esta hierarquia aonde o Pai vem primeiro, depois o Filho e depois o Espírito Santo, isto foi meramente para a história desta Terra. “Meramente. Antes da criação e depois da última cerimônia do Apocalipse, os três são absolutamente iguais, sem hierarquia. Não será mais preciso dizer sempre que o Pai é o primeiro, podemos começar a contar de qualquer um.

 

E como é que os teólogos descobriram isso?

 

Os astrônomos não conseguem investigar nada “antes” do “big-bang”, teoria inventada para explicar como tudo começou. Seus magníficos telescópios, naves e aceleradores de elétrons mal vislumbram coisas envolvendo nossa própria terra. Entretanto, os teólogos da Andrews conseguiram ir muito, muito mais além. E usando o quê, qual sofisticadíssimo aparelho? Ora, apenas um par de meias!

Foi assim. Estando o Dr. Woodrow Whidden imerso em seus pensamentos para finalizar o livro A Trindade, em uma tarde quente em seu escritório, ele aproveitou que estava sozinho e, seguindo a recomendação de seu médico, tirou os sapatos e colocou os pés sobre a mesa. (Aqui é preciso observar que o médico do Dr. Whidden é um profissional dedicado e humano, nada a ver com a medicina fria e impessoal, criticada por ele na pág. 312.).

Elevar as pernas ajuda o retorno do sangue, o que dá uma sensação de alívio para quem está muito tempo sentado. E assim, com os pés no alto, olhando para as suas meias, ele teve esta idéia assombrosa. Sim, a teoria da Trindade diz que os Três são iguais, mas só o fato de se começar a contar sempre a partir do Pai, e de se estabelecer a ordem “primeiro, segundo e terceiro”, já mostra que não são iguais. Qual o primeiro lado do triângulo? Então, antes que esses antitrinitarianos insolentes usem este argumento, já fica aí o antídoto. Os Três são absolutamente iguais, e o “líder-chefe” (pág. 309) não será mais líder nem chefe, assim como nunca foi Pai. 

 

O problema é que isto não está escrito em absolutamente lugar nenhum!

 

O problema é que, do Gênesis ao Apocalipse, nenhum verso diz isso, ou algo parecido com isso! Ele diz que é a “evidência escriturística”, que lhe deu tal informação. Não foi. Não há absolutamente verso nenhum na Bíblia, nem no Alcorão, nem no Talmude, nem no manual do escoteiro, que diga isso ou algo que passe perto disso. É uma fantasia exclusiva do Dr. Whidden, ao olhar para suas meias.

Está bem. Para fins científicos, não posso afirmar que ele teve esta idéia ao olhar para as meias. Mas pode ter sido, pois quando estamos pelados no banheiro, em geral não pensamos em metafísica, pois a visão do nosso corpo ridículo nos inibe pensamentos tão grandiosos. E a mente humana, para criar bobagem desta magnitude, precisaria estar sossegada, em ambiente tranqüilo. Poderia ser em uma pescaria, também. Mas é mais fácil provar aqui que foi olhando para as meias do que ele provar o que afirmou sobre a Trindade.

Não é preciso abrir a Bíblia para ver a incoerência. O primeiro verso da Bíblia já começa com a criação, e o final do livro do Apocalipse, é onde termina a história da Redenção. A evidência escriturística do Dr. Whidden deve ser procurada, portanto, antes do Gênesis e depois do Apocalipse. Bom, vai ver ele possui uma Bíblia especial, ou algumas tabuinhas de ouro trazidas por um anjo.

 

Pegadinha celestial: Jesus se disfarça de anjo!

 

O pastor Ruben Schaeffel em artigo na Revista Ministério também exerceu seu direito a teorizar, e afirmou que Jesus, no “antes”, andava disfarçado de anjo. Observe que a teoria dele e a teoria do Dr. Whidden são um tanto antagônicas, pois se os “Três Deuses” fossem realmente absolutamente iguais, não faria sentido um deles andar disfarçado de anjo. A igreja terá que optar por uma dessas duas fantasias.

Se for na base do voto, votarei no pastor Schaeffel, pois ao menos há alguma base escriturística para sua teoria. É mais fácil acreditar em um Jesus humilde que em um trio absolutamente igual onde o Pai não é pai e o Filho não é filho. Outra razão para apoiá-lo é que temos que valorizar a teologia nacional.

No artigo anterior, afirmei haver encontrado evidências de que os autores do livro “A Trindade” poderiam não crer mais na Trindade, e teriam deixado pistas, que a censura não poderia perceber. Teriam que ser lidos por outros teólogos, inclusive, sem que os mesmos notassem. Assim, o Dr. José Carlos Ramos e o Dr. Amin Rodor leram, mas não viram nada de anormal.

Pensando bem, enganar o Dr. Rodor não deve ser difícil, mas enganar a todos, seria possível? É difícil precisar até onde pode ir a imaginação de um professor da Andrews ao observar seu dedão do pé mexendo dentro da meia. Mas qual sua intenção ao afirmar uma absurdidade dessas? Não seria para que, após o livro ter cumprido sua função de combater os hereges, alguém observasse que eles estão só brincando?

 

Encerramento: E o vento sagrado vira água da vida...

 

Há poucos dias houve o encerramento das olimpíadas. Na festa de encerramento, ficamos sabendo oficialmente quem foram os melhores. Nas formaturas da Universidade Andrews, o professor Whidden deve compor a mesa ao entregar os diplomas. São ocasiões de muita importância.

Quando acabar “o grande conflito”, no “final e glorioso triunfo”, haverá também uma cerimônia para todo o universo assistir. A Nova Jerusalém será apresentada aos futuros habitantes da Terra e do Universo. Tudo o que era escondido será revelado. Satanás e seus enganos e mentiras não mais existirão.

Deus Pai e seu Filho compartilharão o trono, e os autores, defendendo a teoria da Trindade, mostram que isto é uma prova final e inquestionável que ambos são Deus. Aqui, os que dizem que Jesus não é Deus ficam sem ter o que falar. Bem feito!

Assim, estaria provada a Trindade, mas, calma aí, até agora só há dois. E o livro de Apocalipse vai acabar, estamos na última página. É a cerimônia final, é o encerramento, é o clímax glorioso da história da criação e da redenção. Ali todos estão presentes. Os anjos, os 144.000, a grande multidão, a cidade, a árvore da vida... e o mais importante de tudo, o trono onde Deus reinará pelos séculos dos séculos. E, ao seu lado, do lado direito para ser mais exato, está seu Filho. Ele também reinará para sempre e sempre.

E do lado esquerdo, podemos ver, está o... não, ainda não está. Bom, a história da redenção acabou, agora, segundo o Dr. Whidden começa uma nova história, onde os três serão novamente absolutamente iguais. Se forem absolutamente iguais, sem privilégio ou favoritismo ou hierarquia, não deveria já começar nesta cerimônia?  E, vejam, sentados ao trono, Pai e Filho. Só o Pai e o Filho. Talvez, em uma nova visão, apareçam os três...

Mas o livro do Apocalipse acaba, a Bíblia acaba, os escritos de Ellen White, incluindo os acréscimos com caneta esferográfica, acabam, e só há dois, mesmo, no trono.

Os autores poderiam aqui, num acesso súbito de humildade, continuar afirmando que crêem na Trindade, mas admitir que o Espírito é espírito. Eles diriam simplesmente que o Espírito Santo estaria lá pessoalmente em pessoa, mas, como crê a maioria do povo, espírito que se preza não pode ser visto. Não se pode ver o vento.

Mas não. Novamente, eles nos deixam uma pista de que não crêem na lógica da Trindade, pois, nas páginas 100, 101 e 102, em teologuês intrincado, eles tentarão nos convencer que o rio que sai do trono é o Espírito Santo. Quer dizer, na cerimônia de encerramento, na formatura final, a terceira Pessoa, que jamais teve o privilégio de ser adorado em toda a Bíblia, novamente comparece dissimulado, sob forma de rio. Todos estão presentes, cantam hinos, louvam ao Pai e ao Filho, mas a terceira Pessoa Divina, permanece disfarçada. Porquê? E logo de rio! O vento (ruach, pneuma), agora vira líquido.

 

Os teólogos da Andrews só podem mesmo estar brincando!

 

Assim como no caso do Deus que para ser amor precisa ser três, este é outro argumento dolorosamente difícil de ser engolido. Assim que o livro foi lançado no Brasil, esta absurdidade foi comentada neste site. Quer dizer, os três são iguais, mas o terceiro seguirá sendo o menos importante, e permanecerá todo o futuro disfarçado de rio. Por que não está sentado no trono?

Os autores buscam vários versos para identificar o Espírito Santo com a água, mas só pioram as coisas. Melhor se apelassem para a homeopatia. A homeopatia é defendida por doutores importantes, sérios, que escrevem cartas indignadas quando se questiona sua ciência. A homeopatia diz que uma substância dissolvida várias vezes na água, “impressiona” as moléculas da água, e, mesmo depois de a substância já não estar presente, a água mantém as propriedades desta substância. É como se a água retivesse “o espírito” da substância.

Muitas pessoas importantes crêem na homeopatia, muitos artistas famosos já foram curados por ela, é uma especialidade médica reconhecida por lei e com diversos profissionais sérios e honestos atendendo ao povo, e que merece todo respeito. Só não funciona. Água não tem espírito. Mas, conforme os nossos doutores teólogos, pode ser que sim, pode ser que a água seja espírito.

Talvez os índios, em seus rituais, ou os antigos egípcios, que adoravam o Nilo, tenham lá suas razões. (Há quem adore o Rio Ganges ainda hoje). O espírito da água. O rio espírito. Gente, eles não podem estar falando sério! É mais uma coisa engraçada dita em linguagem complexa para o resto da turma não perceber.

A linguagem “vento”, “Ruach”, “Pneuma”, era fácil de ser entendida pelas pessoas de antigamente, que mesmo sem saber o que é Oxigênio e Nitrogênio, sabiam que o vento existia, estava em todos os lugares, e só. O símbolo era de fácil compreensão. Agora, o vento vira água. Como, então, o Espírito estará em todos os lugares ao mesmo tempo? Só com uma enchente, um dilúvio!

 

A fé dos nossos pais: Quanta emoção, prazer, nos traz!

 

Desde que foi implantada esta doutrina têm se mantido, conforme vemos na História, à força. Todos os que discordam são perseguidos e mortos. Era uma boa forma de argumentar. Hoje, com leis nos países cristãos que impedem tal forma de convencimento, os argumentos usados são o desprezo, o opróbrio, a perseguição e a exclusão. Quem está “bem” em seu ambiente social na igreja, não vai querer se arriscar. Mas,... e se...

Ora, e não é que o pastor Rubens Lessa, responsável pela defesa da Trindade na Revista Adventista, faz algumas emotivas considerações no editorial de Julho sobre os tempos de antigamente?... Não dá para discordar dele. A fé dos nossos pais, a religião dos antigos obreiros, era muito mais sincera, havia mais dedicação. O mundo estava menos corrompido. Houve um tempo que cinema era pecado. Hoje, as crianças vêem os programas do João Kleber...

Quanto mais para trás, mais obreiros fiéis encontramos. Sigamos o caminho que o pastor Lessa indicou. E não é que, se voltarmos mesmo, chegaremos aos pioneiros? Ali sim, tínhamos fé e dedicação total! Que bom, se tivéssemos pastores com a garra e a fé de um Tiago White ou Uriah Smith! Levando o raciocínio do pastor Lessa adiante, com certeza chegamos aos pioneiros. Só que eles não criam na Trindade!... Pastor Lessa, pastor Lessa! Olha o emprego! (Não, dr. Rodor, o pastor Lessa não está mudando de lado, é só uma brincadeira...)

Convido a todos os que crêem nos teólogos para um banho de rio na Nova Terra, (se eu for, claro). Rio é formado de água, não de vento. Não tomaremos banho dentro de um Deus. Alguém que fale inglês poderia convidar o Dr. Whidden para entrar conosco na água (sem as meias, claro).

 


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