Comentário da lição da Escola Sabatina
do 3º Trimestre de 2006
O EVANGELHO, E O JUÍZO
RESPOSTAS A CRÍTICAS E OBJEÇÕES - 2
Tenho
recebido muitas críticas quanto ao fato de crer e defender que o Chifre Pequeno
de Daniel 8 surgiu dos “quatro ventos da terra” e não dos “quatro chifres do
bode”.
A
Bíblia revela:
“O bode tornou-se muito grande,
mas no auge da sua força o seu grande chifre foi quebrado, e em seu lugar
cresceram quatro chifres enormes, na
direção dos quatro ventos da terra. De um deles saiu um pequeno chifre, que logo cresceu em
poder na direção do sul, do leste e da Terra Magnífica.” Dan. 8:8 e 9.
As
três razões que tenho apresentado como evidências de que o Chifre Pequeno surge
dos “quatro ventos do céu” são:
1) No hebraico o verso 9 não diz: “de um dos quatros
chifres”, mas diz: “de um deles”.
Imediatamente antecedendo a frase onde lemos a palavra “deles” está a
expressão “quatro ventos do céu”, sendo assim muito mais natural relacionar a
palavra “deles” com o seu antecedente imediato (de um dos quatro ventos do
céu). Para entendermos como “de um dos quatro chifres” precisamos forçar a
relação da palavra “deles” com os “quatro chifres”.
2) Na gramática hebraica a palavra “chifre” (qeren) do
verso 8 é uma palavra feminina, e a palavra “ventos” (ruach) pode ser tanto
masculina como feminina. Como o pronome pessoal “eles” (de + eles = deles) deve
concordar com o substantivo que o antecede, este pronome deveria ser feminino
caso ele realmente se referisse aos chifres. Porém, o que acontece é que na
língua hebraica o “deles” do verso 9 é uma palavra masculina, sendo
completamente inviável que ela esteja relacionada com a palavra chifres. O
correto é a palavra masculina “deles” do verso 9 estar relacionada com a
palavra “vento” que pode ser tanto masculina como feminina.
3) A menção do crescimento do Chifre Pequeno em
direção a pontos cardeais (sul e leste), pode ser um reforço adicional ao
vínculo que queremos estabelecer dele com os quatro “ventos do céu”, ou quatro
cantos da terra (comparar com Ezequiel 37:9).
Em
uma análise bem imparcial, devo admitir que a razão nº.1 não é tão forte assim,
pois sua argumentação não é decisiva para determinar se o pronome “deles” (do
verso 9) refere-se aos “quatro chifres” ou aos “quatro ventos” (do verso 8).
Por exemplo, alguém poderia dizer:
“Numa
determinada hora da noite, eis que quatro ratos surgem dos quatro buracos da
casa. De um deles exala um grande mau cheiro.”
Somente
por aquilo que está escrito acima não poderíamos determinar com absoluta
precisão se o mau cheiro é proveniente de um dos quatro buracos da casa ou de
um dos quatro ratos. Posso até argumentar que na estrutura do texto a palavra
“deles” vem imediatamente após a expressão “buracos da casa”, mas isto não é
uma prova irrefutável, pois ainda assim teríamos que contar com a possibilidade
do autor ter a intenção de referir-se a “deles” como a um dos “quatro ratos”.
Porém,
o argumento nº.2 tem um peso bem mais significativo. Se o pronome “deles” (do
verso 9) é realmente masculino e a palavra “chifres” (do verso 8) é feminina,
como afirmam os gramáticos da língua hebraica, então gramaticalmente falando
fica muito estranho dizer que o anjo estava referindo-se aos “chifres”. Para
aceitarmos tal hipótese teríamos que admitir que Daniel cometeu um erro de
concordância ao relatar as palavras do anjo Gabriel, ou mesmo acreditar que ele
escreveu corretamente, mas os copistas que multiplicaram seus escritos foi que
erraram. Como a palavra “ventos” em hebraico é neutra, aceitar o pronome
“deles” vinculada a ela não causaria nenhum problema de concordância
gramatical.
Já
o argumento nº.3 não é conclusivo e só tem algum peso se somado aos outros
dois. Aliás, pelo que foi analisado, só o argumento nº.2 sobrevive por si
mesmo, de forma que os outros dois funcionam como argumentos complementares de
ênfase e/ou reforço, e na somatória dos três é que interpretação ganha força e
é sustentada.
Sempre
defendi com “unhas e dentes” (principalmente com base no argumento nº.2 acima)
o surgimento do Chifre Pequeno como de um dos “quatro ventos” e nunca como de
um dos “quatro chifres”. Acontece que este tipo de interpretação tem suscitado
uma crítica muito coerente que deve ser levada seriamente em consideração:
Chifres na profecia bíblica nunca provêem
de “ventos”! Chifres sempre são apresentados surgindo de algum tipo de animal
ou de algum outro chifre! (Defender
um chifre surgindo de um “vento” é o mesmo que defender o surgimento de um
chifre do “nada”).
Na
parte nº.1 destas “Respostas a Críticas e Objeções” usei para a objeção acima o
seguinte argumento:
Se a estrutura gramatical dos escritos de Daniel
sugere isto, por que questionar? Só porque nunca vimos nada parecido antes.
Símbolos proféticos não necessitam obrigatoriamente seguir uma lógica humana.
Alguém pode explicar um leão com 2 asas que depois se levanta como um homem? Ou
um leopardo com 4 asas e 4 cabeças? Ou ainda um monstro de 10 chifres com unhas
de bronze e dentes de ferro? Algum bode tem um chifre notável entre os olhos?
Se todos estes símbolos são muito estranhos, porque então estranharíamos uma
visão de um chifre surgindo e crescendo proveniente de um dos 4 cantos da
terra?
Para
muitos a dificuldade de aceitar tal interpretação persiste, pois não encontram
uma razão plausível para Deus usar uma simbologia tão estranha como esta (mesmo
levando em consideração todos os outros símbolos bem estranhos). Eles continuam
questionando: “Se o Chifre Pequeno representa um outro poder totalmente
independente dos quatro chifres (como defendem os adventistas), por que Deus não o representou como um
outro animal assim como o fez na simbologia da visão do capítulo 7? Por que
simboliza-lo a um Chifre Pequeno vindo do vento?”
No
meu entender todas estas questões podem ser respondidas quando passamos a
considerar a preocupação de Deus em
caracterizar o quarto reino de uma maneira sobrenatural; como no capítulo 7
com o animal terrível e espantoso com 10 chifres, unhas de bronze e dentes de
ferro. No meu entender este animal é tão estranho e admirável como um Chifre
Pequeno que surge e cresce por si só de um dos quatro ventos do céu. Ambas as
simbologias sobressaem como elementos totalmente sobrenaturais e sem qualquer
comparação no mundo em que vivemos.
Em
resumo, temos até agora duas alternativas de interpretação para o surgimento do
Chifre Pequeno de Daniel 8:
1ª) Interpreta-lo como surgindo de um dos “quatro
ventos” e em conseqüência desta interpretação poder manter o paralelismo entre
as visões dos capítulos 2 e 7, identificando este poder como o império romano.
2ª) Interpreta-lo como surgindo de um dos “quatro
chifres” e ter que admitir que o Chifre Pequeno é um símbolo para o rei Antíoco
Epifânio.
O
grande problema com a 2ª interpretação está na conseqüência a que ela leva, ou seja, interpretar o Chifre Pequeno
como símbolo para o insignificante rei Antíoco Epifânio ou Antíoco IV.
Especialmente porque Dan. 8:23 fala que este poder representado pelo Chifre
Pequeno surgiria "no fim do seu reinado", referindo-se ao reinado dos
quatro reinos divididos representados pelos quatro chifres. Esta informação
bíblica inviabiliza a identificação do Chifre Pequeno como sendo o rei
Antíoco Epifânio que foi o oitavo rei da dinastia selêucida (
Acontece
que recentemente fiquei sabendo que estas não são as únicas duas alternativas
de solução. Existe uma terceira que passo agora a considerar.
3ª ALTERNATIVA DE SOLUÇÃO
O Chifre Pequeno surgindo de um dos “quatro chifres” como um
símbolo do surgimento do império romano, e não de Antíoco Epifânio.
Mas
onde está a base para esta interpretação?
Existe
algum elemento na história que a justifique?
Analise
os textos a seguir:
“O problema da sucessão de Alexandre arrastou o país a
novas guerras. Por fim, impuseram-se os Antigônidas na Macedônia, a Monarquia Selêucida no Oriente e a Ptolomaica no Egito. Com isso, o
império dividiu-se definitivamente, embora os anseios de liberdade dos gregos
os levassem ainda a novas guerras e coligações, de êxito esporádico, até a
intervenção final e a ocupação do território pelos romanos. As primeiras
relações dos romanos com as cidades gregas haviam sido amistosas. Todavia,
quando em
(fonte: http://www.nomismatike.hpg.ig.com.br/Grecia/GreAntig.html)
“A ciência
grega foi difundida pela expansão militar do Império de Alexandre, que encontrou uma continuidade, de modos diversos, em muitas das regiões
conquistadas, a cultura helenística,
particularmente
(fonte: http://plato.if.usp.br/1-2003/fmt0405d/apostila/mediev11/node2.html)
Como
podemos verificar nos textos acima, de certa forma os historiadores afirmam que
o império romano foi uma extensão da cultura (idioma, arte, filosofia)
desenvolvida no império grego-macedônico. E desta forma, poderíamos até
arriscar em afirmar que neste sentido o Chifre Pequeno surgiria como procedendo
de um dos “quatro chifres”. Esta procedência não seria no sentido geográfico ou
político, mas no sentido cultural, referindo-se a um poder que teria grande
parte de sua cultura advinda do império que o antecedeu (helenista).
É
claro que este tipo de interpretação cria alguns problemas difíceis de
solucionar:
1)
Se a procedência
é no sentido da identificação cultural absorvida pelo império romano em relação
ao império grego-macedônico, temos uma aplicação do surgimento do Chifre
Pequeno diferenciada da aplicação dos demais chifres na profecia (todos
indicando procedência geográfica e política);
2)
A profecia fala
explicitamente: “de um deles”. Se a procedência é cultural em relação a todo o
império helenista, porque foi mencionado que o Chifre Pequeno procederia de uma
das partes do império?
3)
A quais dos
quatro chifres do bode identificaríamos como cumprindo a profecia “de um
deles”?
a)
Lissímaco que
ficou com a Trácia e maior parte da Ásia e cujo reinado terminou em
b)
Cassandro que
ficou com a Macedônia e a Grécia e cujo reinado terminou em
c)
Seleuco que ficou
com o restante da Ásia (Síria) e cujos reis que o precederam governaram até
d)
Ptolomeu que
ficou com o Egito, Cirenaica, Palestina e que teve sua dinastia perpetuada até
o ano de
Alguns
adventistas utilizam esta alternativa de solução por acharem que o vínculo
entre a expressão “deles” e os quatro chifres é irrefutável. Particularmente, não
creio desta maneira, pois considero a questão gramatical envolvida muito mais
forte que a estranheza de um chifre originando-se de um dos quatro ventos.
Porém,
o mais importante de tudo é que, com 3ª alternativa de solução, quer você
aceite que o Chifre Pequeno se originou dos quatro ventos, quer entenda que foi
de um dos quatro chifres, o resultado será um só; a identificação do Chifre
Pequeno como o império romano. Os evangélicos que insistem