De olho na Lição da Escola Sabatina
Efésios 4:30 – “E
não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da
redenção”
Explicação
da atual IASD:
“Essa
declaração revela sem rodeios que o Espírito não é simplesmente um poder divino
mas uma Pessoa ativa da Divindade, sensível aos relacionamentos.” Lição da
Escola Sabatina do 4º trimestre de 2005, pág.114 – Edição do Professor
Esta
tem sido a explicação clássica dos atuais doutores da atual IASD: “A Bíblia diz
que o Espírito Santo pode ser entristecido, e uma força ou influência não pode
ter sentimentos, pois somente uma pessoa os possui. Portanto, conclui-se que a
única explicação para este verso se tornar compreensível é de que o Espírito
Santo é uma Pessoa Divina, a Terceira Pessoa da Trindade”.
Será
que esta seria a única explicação que possibilita entender este verso da
Bíblia? Acredito que não!
Em
uma análise bem superficial (para não dizer, simplista e infantil), a conclusão
acima pode até parecer razoável e lógica, porém tudo não passa de uma
“inferência” ou “dedução”:
O Espírito Santo pode ser
entristecido
Tristeza = Sentimento
Só Seres Pessoais possuem
sentimentos
Logo, Espírito Santo = Ser
Pessoal
De
acordo com esta lógica tendenciosa poderíamos interpretar Ezequiel 16:51 que
diz “Samaria não cometeu metade de teus pecados...”:
Samaria pecou
Pecado = Transgressão da Lei
de Deus
Só Seres Pessoais podem
transgredir uma lei
Logo, Samaria = Ser Pessoal
Conclusão
estranha! Não acham? Samaria é uma cidade e não uma pessoa, e uma cidade não
peca e sim as pessoas que nela vivem. Está bem claro para todos que aqui o
profeta está usando uma linguagem figurada ou metafórica, onde os habitantes da
cidade de Samaria são descritos como a própria cidade.
Por
que no caso de Ezequiel 16:51 todos aceitam facilmente a existência de uma linguagem
figurada ou metafórica, e no caso de Efésios 4:30 as coisas se tornam
diferentes? Assim como Samaria é usada figuradamente no lugar dos habitantes
desta cidade, não poderia também o “espírito de Deus” de Ef.4:30 referir-se à ação
direta e pessoal do próprio Deus?
Uma
das premissas básicas de interpretação e exegese da Bíblia é que ela se explica
a si mesma. Quando lemos em Jó 19:2: “Até quando entristecereis a minha
alma...”, entendemos por tudo aquilo que a Bíblia ensina sobre a palavra “alma”
(hebraico=NEPHESH) que o autor está querendo dizer: “Até quando entristecereis
a minha pessoa”. A palavra “Alma” na Bíblia não se aplica a uma entidade
consciente que pode viver independentemente do corpo da própria pessoa.
Da
mesma forma precisamos analisar a palavra “espírito” dentro da Bíblia. Quando
Eclesiastes 12:7 traz “E o pó volte a terra, como o era, e o espírito volte a
Deus, que o deu”, nenhum teólogo adventista do 7º dia interpretaria a palavra “espírito”
como uma entidade etérea com consciência que sai do corpo dos seres vivos
quando eles morrem (isto é espiritismo!). Todos nós adventistas do 7º dia
entendemos que a palavra “espírito” (hebraico=RUACH) na Bíblia refere-se ao
princípio vital da vida (fôlego de vida) proveniente do Criador que, assim como
a energia elétrica faz funcionar os eletrodomésticos, transforma o corpo
inanimado (um boneco de barro) em uma “alma vivente” ou “ser vivente” (Ver Gên.2:19).
Em
I Coríntios 2:10-11 encontramos uma excelente explicação relacionando o “espírito
humano” e o “espírito de Deus”:
“Mas Deus no-las revelou pelo Seu espírito. O espírito
penetra todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus. Pois qual dos homens
sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também
ninguém sabe as coisas de Deus, senão o espírito de Deus.”
Os
atuais teólogos adventistas falam que o “espírito de Deus” neste verso
refere-se a Terceira Pessoa de uma Trindade constituída por Deus o Pai, Deus o
Filho e Deus Espírito Santo. Mas o verso esta comparando o “espírito do homem”
com o “espírito de Deus” dizendo assim como é um assim também é o outro; assim
como o espírito do homem é o único que conhece as coisas do próprio homem,
assim também somente o espírito de Deus conhece as coisas do próprio Deus. Nossos
doutores teólogos não se atrevem a ensinar que este “espírito do homem” é um
outro ser além do próprio homem (isto seria ensinar o espiritismo!), mas no
mesmo verso quer que entendamos que o “espírito de Deus” é um outro Deus
chamado Deus Espírito Santo além do próprio Deus o Pai. Isto é uma grotesca
incoerência!
Se
entendemos que, por tudo aquilo que a Bíblia ensina sobre a palavra “espírito”,
a expressão “espírito do homem” refere-se a essência do próprio homem, e na
verdade é ele mesmo e não um outro diferente dele, então temos que ser sinceros
intelectualmente para admitir que a expressão “espírito de Deus” refere-se a essência
do próprio Deus, e na verdade é Ele mesmo e não outro diferente dEle.
Portanto
chega de usar estas inferências simplistas e tendenciosas: O espírito falou, só
uma pessoa pode falar, portanto o espírito Santo é uma terceira pessoa; o espírito
intercede, só um ser pessoal pode interceder, portanto o espírito Santo é um terceiro
ser pessoal. Olhem, pesquisem, analisem todas as evidências Bíblicas e percebam
que valendo-se do princípio básico da “analogia da fé”, existe uma outra
explicação que deve ser séria, honesta e inteligentemente considerada.
É
por estas questões acima que eu concordo com um grande amigo meu que afirma que
os filósofos possuem muito mais honestidade intelectual que a maioria dos teólogos.
O filósofo está em busca da verdade a qualquer preço, e a deseja mesmo que ela
venha de encontro com suas idéias e valores pré-concebidos. Infelizmente esta não
é a postura de muitos dos teólogos que conheço, pois não estão em busca da
verdade não importando as conseqüências; estão sim, em busca de subterfúgios
para defender “suas” verdades (credos ou crenças fundamentais), e o pior do que
isto, sem coragem para considerar honestamente o outro lado com medo de perder
seus salários e estabilidade profissional.
“Examinai tudo. Retende o bem.” I Tessalonicenses 5:21
Continuaremos de olho...