Reflexões Leigas sobre a Lição 11 da Escola Sabatina

Sábado 11/12/2004

 

O CALENDÁRIO DE DEUS – DANIEL 9

 

 

Quando Daniel recebeu a visita do anjo Gabriel, que já o havia visitado a mais de 10 anos atrás (cap.8), Babilônia já não existia como império, de forma que os eventos do capítulo 9 provavelmente ocorreram entre os eventos do capítulo 5 e 6 de Daniel.

 

Cronologia dos capítulos de Daniel:

 

 

Ano a.C.

605

602

594

569

553

551

539

539/

538

538

Capítulo

1

2

3

4

7

8

5

9

6

Evento

Cativeiro

1ª Visão de Daniel

Fornalha Ardente

Doença de Nabuco-donosor

2ª Visão de Daniel

3ª Visão de Daniel

Banquete e Queda de Babilônia

Expli-cação da Visão

Cova dos Leões

Idade de Daniel

17

20

28

53

69

71

83

83-84

84

 

 

É difícil precisar se Daniel recebeu a explicação do cap.9 antes ou depois da experiência na cova dos leões. Mas de qualquer forma, os eventos do cap.6 e 9 estão muitíssimo próximos. Analisando estes eventos dentro do contexto do conflito entre o bem e mal, e tentando decifrar os bastidores deste conflito, acredito que a cova dos leões foi uma tentativa desesperada do diabo em dar cabo da vida de um profeta que recebeu (ou receberia) de Deus a chave para compreensão de uma das mais importantes profecias. É aquilo que chamamos de queima de arquivo! Satanás sabia o quão importante seria a compreensão desta profecia para o povo de Deus futuramente, por isso não mediu esforços para destruir a vida do idoso profeta responsável por receber e transmitir este conhecimento.

 

Particularmente, acredito que existe um interessante e revelador vínculo entre acontecimentos do capítulo 6, que relata a insistência de Daniel em orar apesar do decreto do rei (Dan. 6:10), com os acontecimentos do capítulo 9, que relata o seu empenho em buscar a Deus com oração e jejum (Dan. 9:3). O período em que Daniel buscava a Deus com oração e jejum é o mesmo em que aconteceram os fatos que o levaram à cova dos leões. Interessante, não?

 

 

O Contexto do capítulo 9

 

Terminamos o capítulo 8 com Daniel impressionado com a visão que não havia entendido. Suas dúvidas eram muitas: O que significaria 2.300 tempos para que então o santuário pudesse ser purificado? O santuário não estava destruído e inativo? Será que o Senhor está dizendo que este seria o tempo que levaria para que o santuário fosse reconstruído novamente? Será que o povo de Deus ficaria ainda no cativeiro por mais 2.300 anos?

 

Com todas estas dúvidas, Daniel se dedicou a estudar os escritos de Jeremias, pois lhe parecia que o Senhor havia revelado para este profeta um período bem menor. Daniel sabia que o Senhor havia dito a Jeremias:

 

“Toda esta terra virá a ser ermo desolado, e estas nações servirão ao rei de Babilônia setenta anos. Mas quando cumprirem os setenta anos, punirei o rei de Babilônia e a sua nação, a terra dos caldeus, castigando a sua iniqüidade, diz o Senhor, e farei deles desolações perpétuas” Jeremias 25:11-12.

 

“Assim diz o Senhor: Certamente que passados  setenta anos em Babilônia, atentarei para vós, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando-vos a trazer a este lugar” Jeremias 29:10.

 

No início do capítulo 9 Daniel relata que havia entendido que o cativeiro seria de 70 anos:

 

“No primeiro ano de seu reinado, eu, Daniel entendi pelos livros que o número de anos, de que falou o Senhor ao profeta Jeremias, que haviam de transcorrer sobre a desolação de Jerusalém, era de setenta anos” (verso 2)

 

Quando Daniel chegou à conclusão acima, já haviam se passado cerca de 68 anos de cativeiro babilônico (605 a 538 a.C.). De acordo com a revelação de Deus ao profeta Jeremias, faltavam aproximadamente só dois anos para o fim do cativeiro.

 

Mas se estava bem claro que o Senhor havia revelado ao profeta Jeremias que o cativeiro seria de 70 anos, por que agora ele havia recebido uma visão que falava de 2.300 anos para que o santuário fosse purificado? Estaria o Senhor aumentando o tempo de cativeiro em função da falta de arrependimento do povo de Israel?

 

Com estas dúvidas e temores na cabeça, Daniel resolve buscar ao Senhor com oração e jejum. Vemos que o teor de sua bela oração (uma das mais belas de toda a Bíblia) é basicamente de confissão, arrependimento e súplica por misericórdia. Daniel conclui com um dramático pedido:

 

“Ó Senhor, ouve! Ó Senhor, perdoa! Ó Senhor, atende-nos e opera sem tardar! Por amor de Ti mesmo, ó Deus meu, porque a Tua cidade e o Teu povo se chamam pelo Teu nome” (verso 19)

 

Seu pedido era: “Senhor, atende-nos e opera sem tardar!”. Em outras palavras: “Senhor, não atrase mais os seus planos para com o Seu povo”. Foi neste contexto que o poderoso anjo Gabriel foi enviado, ainda quando Daniel estava orando, para lhe fazer entender corretamente a questão do tempo que o martirizava.

 

O vínculo entre os 2.300 dias proféticos do cap.8 e a explicação de Gabriel no capítulo 9 é tão obvio, natural e direto, que chega a causar espanto quando vemos os demais cristãos querendo insistir que não existe nenhum vínculo.

 

Separar a visão do capítulo 8, mais particularmente a questão do tempo que não havia sido entendida, torna completamente sem sentido a explicação que Gabriel veio dar no capítulo 9. Ele estaria explicando o que? O cap.9 não apresenta qualquer tipo de visão que justifique uma explicação posterior. É mais do que lógico entender que a explicação só pode referir-se à questão dos 2.300 anos na profecia do capítulo 8. As evidências diretas e indiretas que comprovam esta conclusão são muitas:

 

1)     O anjo que havia começado a explicação da visão no capítulo 8, é o mesmo que aparece no capítulo 9 para continuar a explicação.

2)     A missão de Gabriel é a mesma: Fazer Daniel entender a visão (comparar Dan. 8:16 com Dan. 9:23).

3)     Daniel menciona claramente a última visão no verso 21.

4)     O momento que o anjo chegou, ou seja, na hora do sacrifício da tarde, é mencionado tornando o vínculo com a expressão “2.300 tardes e manhãs” ainda mais forte.

5)     Daniel não havia entendido (Dan. 8:27) e agora o anjo vem explicar (Dan. 9:23).

6)     Daniel estava preocupado com a questão do tempo, e é este justamente o assunto que trata a explicação do anjo em Dan. 9:24-27.

7)     A palavra em hebraico utilizada para a parte da visão que se refere ao tempo é  MAR’EH, a mesma palavra usada pelo anjo quando diz a Daniel: “Entende a visão (mar’eh)” no verso 23.

8)     Gabriel utiliza-se da mais clássica linguagem do santuário (Dan. 9:24) com o propósito de explicar a Purificação do Santuário de Daniel 8:14.

 

Mais lógico, óbvio e claro que isto impossível. Os evangélicos que me desculpem, mas para separar o capítulo 8 do 9 precisam desconsiderar todas estas fortíssimas evidências, e distorcer as Escrituras.

 

 

A Explicação de Gabriel

 

“Setenta semanas estão determinadas” (verso 24)

 

A palavra “Setenta semanas” está no hebraico como “Setenta sete” que pode ser entendido como “Setenta vezes sete” (ver Mateus 18:22). O resultado de “Setenta sete” (70 x 7) que é 490 salta do texto hebraico de forma marcante.

 

A palavra “determinadas” foi traduzida do hebraico CHATHAK que significa cortar, dividir, separar, amputar. Gabriel então disse: “Setenta semanas estão cortadas”. A pergunta que fazemos a seguir é: Cortada (separada) de onde? Aqui encontramos mais uma clara alusão à visão (mar’eh) do capítulo 8. Como o assunto em pauta é a questão do tempo envolvendo os 2.300 dias/anos, está evidente que o período de 70 semanas (ou 490 dias/anos) só pode ter sido cortado (separado) deste período maior.

 

O verso 24 apresenta um resumo dos acontecimentos desta 70 semanas numa interessante estrutura literária onde encontramos os seguintes paralelismos:

 

Setenta semanas estão determinadas:

 

Sobre o teu povo para:

Sobre a tua santa cidade para:

 

A

Cessar a transgressão

Trazer a justiça eterna

B

A’

Findar os pecados

Selar a visão e a profecia

B’

A’’

Expiar a iniqüidade

Ungir o Santo dos Santos

B’’

 

Existe um paralelo sinônimo entre as expressões da linha A e também entre as expressões da linha B. Encontramos também um paralelismo complementar entre a expressão da coluna A e seu correspondente na coluna B. Este quadro num todo apresenta tanto o sacrifício substitutivo de Jesus, como seu ministério intercessório no santuário celestial, sintetizando perfeitamente os objetivos das 70 semanas.

 

Quando começariam as 70 semanas?

 

“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Ungido, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas.” (verso 25)

 

Começam na saída da ordem que decretou a reconstrução de Jerusalém. Em Esdras encontramos os seguintes decretos:

 

1º Decreto (Capítulo 1): Decreto de Ciro, o grande, em 538/537 a.C. que possibilitou o retorno para Jerusalém de vários judeus com a finalidade de reconstruir o santuário, e trazer de volta os utensílios sagrados que haviam sido retirados pelo rei Nabucodonossor.

 

2º Decreto (Capítulo 6): Decreto de Dario I Histaspes (Não confundir com Dario, o medo) em 520/519 a.C. que foi uma confirmação do 1º decreto.

 

3º Decreto (Capítulo 7): Decreto de Artaxerxes I Longímano em 457 a.C., onde foi dada a autorização para que Jerusalém fosse reconstruída de forma legal e oficial. Nos versos 25 e 26 do capítulo 7 de Esdras encontramos a indicação de magistrados e juízes, bem como o restabelecimento das leis judaicas como base do governo civil local. Os magistrados e Juízes poderiam tratar com autoridade plena todos os casos políticos e religiosos que se encontrassem tanto sob a lei judaica, quanto à lei persa, podendo até mesmo aplicar a pena capital. Está bem claro que foi neste decreto que Jerusalém foi restabelecida como nação. O anjo tinha em mente este decreto.

 

O verso 25 fala que desde o decreto do ano 457 a.C. até o Ungido, passariam um período de 69 semanas. Ungido é a tradução da palavra hebraica transliterada como Messias, e traduzida para o Grego como Cristo. Não há dúvidas que o Ungido, o Messias, o Cristo, também chamado de o Príncipe, refere-se a Jesus. Os judeus que tinham sua religião centralizada na esperança messiânica, agora recebem uma profecia que indica precisamente o tempo em que este tão esperado Messias surgiria.

 

Um período de sete semanas mais sessenta e duas semanas totaliza um período de sessenta e nove semanas, ou seja, 483 dias (483 anos com base no princípio um dia igual a um ano). Fazendo as contas chegamos ao ano de 27 d.C. (lembrar que no computo não existe ano 0; de 1 a.C. foi para 1 d.C.). Foi no ano 27 d.C. que Jesus foi batizado e iniciou seu ministério público (Ver Atos 10:37-38; Lucas 3:21-22).

 

O que aconteceria depois do período de 62 semanas?

 

O verso 26 de Daniel 9 informa que após o período de 62 semanas, o Ungido seria cortado (comparar com Isaías 53:8), e um povo de um outro príncipe que haveria de vir (Império Romano) destruiria a cidade e o santuário. Mas este poder destruidor também encontraria o seu fim.

 

Daniel 9:27 explica os eventos da última das setenta semanas. Na metade desta semana o serviço cerimonial do santuário seria cessado por Deus. Em Mateus 27:50-51 lemos que foi por ocasião da morte de Cristo que o véu que separava o lugar santo do santíssimo foi rasgado, indicando que a sombra havia encontrado sua realidade. Como a morte de Jesus cessou a necessidade de se dar continuidade a ritual do santuário, sabemos que pela profecia, esta morte estava prevista para o ano 31 d.C..

 

Veja um quadro resumo das setenta semanas:

 

 

 

 

 

Vinculando com Daniel 8:14

 

Como já vimos, Gabriel estava explicando a visão relativa ao tempo (mar’eh) de Daniel 8:14. Sua explicação foi feita através da profecia das setenta semanas, onde foi indicado claramente o evento que marcaria o seu início. Desta forma, a única maneira de entendermos as setenta semanas como uma explicação de Daniel 8:14, é posicionando o início dos 2.300 anos na mesma data de início das 70 semanas.

 

Assim temos que se os 2.300 anos iniciou com as setenta semanas em 457 a.C. o seu término seria o ano de 1844. Veja o quadro abaixo:

 

 

 

 

 

Irmão X


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