2) Livro: Evangelismo
[Obs.: Continuaremos a expor os
argumentos que foram extraídos do estudo feito por Jairo Carvalho com algumas
alterações e adaptações de nossa responsabilidade]
O livro “Evangelism”
(Evangelismo) é um compilado de textos de Ellen G. White elaborado em 1946,
aproximadamente 31 anos após a morte de Ellen G. White. Como este livro foi
escrito após a morte da mensageira do Senhor, ele não foi revisado por ela.
Assim, quaisquer diferenças encontradas entre os textos originais escritos por
ela e os textos transcritos para o livro “Evangelism” são frutos de
modificações acidentais ou intencionais por parte dos elaboradores deste
compilado.
O primeiro texto do livro
“Evangelismo” que trazemos para a análise é o que se encontra na página 616:
“We need to realize that the Holy
Spirit, who is as much a person as God is a person, is walking through these
grounds.”
Evangelism, 616.
Tradução:
“Nós precisamos
entender que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como Deus é uma pessoa,
está andando por estes caminhos.”
Muitas pessoas sinceras podem
assumir esta frase como estando a dizer “Deus, o Espírito Santo”, está andando
pela Terra, enquanto “Deus, o Pai” e Seu Filho estão no Céu. O texto citado no livro “Evangelism”
apresenta como fonte o Manuscrito 66, 1899. Entretanto, ao compararmos o texto
do livro “Evangelism” com o texto do manuscrito citado por ele, vemos uma
diferença significativa. Apresentamos abaixo o texto deste manuscrito em seu
contexto original:
“The Lord
instructed us that this was the place in which we should locate, and we have
had every reason to think that we are in the right place. We have been brought
together as a school, and we need to
realize that the Holy Spirit, who is as much a person as God is a person, is
walking through these grounds,
that the Lord God is our keeper, and helper. He hears every word we utter and
knows every thought of the mind.”
Manuscript Releases, Vol. 7, page 299 / Manuscript 66,
1899
Tradução:
“O Senhor nos
instruiu de que este era o lugar no qual deveríamos estar, e nós temos tido
razão para pensar que estamos no lugar certo. Nós fomos colocados juntos como
uma escola, e precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma
pessoa como Deus é uma pessoa, está andando por estes terrenos, que o
Senhor Deus é nosso mantenedor e ajudador. Ele ouve cada uma de nossas palavras
e sabe cada pensamento da mente.”
No original em inglês
apresentado acima, enfatizamos e grifamos o texto que foi tirado do original e
colocado como sendo uma frase completa no livro Evangelismo. Vejam os irmãos
que a palavra “we”, que aparece depois da vírgula no manuscrito original, foi
colocada com letra maiúscula (We) como sendo o início da frase que aparece no
livro “Evangelism”. Observem também que a vírgula que se encontra após a
palavra “grounds” no original foi substituída por um ponto no livro
“Evangelism”, fazendo parecer que esta parte da frase do texto original fosse
uma sentença completa:
Veja novamente a citação do
livro “Evangelism”, destacando os pontos acima mencionados:
“We need to
realize that the Holy Spirit, who is as much a person as God is a person, is
walking through these grounds.”
Evangelism, 616.
E agora compare com a
citação do texto original de onde este foi extraído – Manuscrito 66:
“We have been brought together as a school, and we need to realize that the Holy Spirit, who is as
much a person as God is a person, is walking through these grounds, that the
Lord God is our keeper, and helper.”
Os trechos do início e
do final da frase (que sublinhamos acima) foram omitidos, e apenas a parte
central da frase foi colocada no livro “Evangelism”.
Note-se que não foram
colocadas reticências ao final da frase, indicando que o trecho apresentado no
livro é somente uma parte da frase do texto original. Percebe-se portanto
claramente a intenção de fazer parecer com que a frase do livro “Evangelism”
corresponde à mesma frase completa do texto original.
Alguns podem argumentar
que o sentido da frase não foi modificado com estas “pequenas mudanças”, mas o
que questionamos aqui é a forma como manipulam os textos de Ellen White,
colocando pontos e iniciando frases onde bem entendem. Por que não ser
extritamente fiel ao documento original colocando reticências onde devem ser
colocadas e reproduzindo todas as vírgulas e pontos? Se os copiladores do livro
“Evangelismo” não foram fiéis no mínimo, como poderemos ter certeza de que
maiores mudanças não foram feitas?
Interpretando
o texto:
Na versão em português,
traduzida com o nome de “Evangelismo”, este texto está como se segue:
“Precisamos
reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o próprio Deus,
está andando por estes caminhos.” Evangelismo, 616
Este texto pode ser
entendido por um trinitariano como uma evidência de que Ellen White estava
querendo dizer que o Espírito Santo é uma outra pessoa diferente de Deus, o
Pai, e diferente de Deus, o Filho. Mas leia novamente e sinceramente responda:
Ellen White está afirmando aqui que o Espírito Santo é um terceiro ser pessoal
e divino numa trindade juntamente com o Pai e o Filho? Tal conclusão não é ir
além do que está sendo afirmado no texto?
Para um não
trinitariano este texto não causa nenhuma perplexidade, pois nele Ellen White
está afirmando simplesmente que o Espírito Santo é uma pessoa assim como o
próprio Deus, e sua presença conosco deve ser entendida como a presença do
próprio Deus em pessoa.
Como já pudemos ver
naquele texto de Ellen White contido no 14º volume do “Manuscript Releases”, e
que foi modificado na composição do livro “O Desejado de Todas as Nações”, que
diz que o Espírito Santo é o próprio Jesus “despido da personalidade humana
e independente dela”, fica muito simples entender esta declaração como: “O
Espírito Santo é uma pessoa como o próprio Deus é uma pessoa, porque sua
presença é a presença do próprio Jesus que prometeu estar conosco todos os dias
até a consumação do século” (Mateus 28:20).
O objetivo do texto original NÃO
era provar que o Espírito Santo é um “outro Deus”, junto com o Pai e o Filho. O
texto mostra que o “Senhor”, que “nos instruiu”, “o Espírito Santo” que está “andando por estes caminhos”, o
“Senhor Deus”, o qual é nosso “mantenedor” e “ajudador” e que “ouve cada uma de
nossas palavras” e “sabe cada pensamento” é a mesma pessoa – Jesus Cristo
glorificado. O pensamento principal da citação original de Ellen G. White é extraído
do texto de Salmos 139:1-8:
“Senhor, tu me sondas e me conheces... de
longe penetras meus pensamentos... Para onde me ausentarei do teu Espírito?
Para onde fugirei da Tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço minha cama
no mais profundo do abismo, lá estás também.” Salmo 139:1-8
Ellen G. White estava afirmando
o mesmo que afirma o texto bíblico. Jesus, “é tanto uma pessoa” quanto Deus, o
Pai “é uma pessoa”. Jesus “está andando por estes caminhos”. Jesus “é nosso
mantenedor e nosso ajudador”. Jesus “ouve cada uma de nossas palavras e sabe
cada pensamento da mente”.
A irmã White está enfatizando
que uma pessoa real está conosco, e não somente uma força intangível ou
eletricidade, como o Dr. J. H. Kellog estava ensinando. Na citação que apresentamos
a seguir, fica evidente que Ellen G. White cria que a pessoa divina que está
andando conosco na Terra é Jesus:
“Há poder para nós em Cristo. Ele é nosso Advogado perante o
Pai. Ele envia Seus mensageiros a cada parte do Seu domínio a fim de comunicar
Sua vontade ao Seu povo. Ele anda no meio das Suas igrejas... ‘que anda no meio
dos sete candeeiros de ouro.’ Apocalipse 2:1. Este texto mostra a relação de
Cristo para com as igrejas. Ele anda no meio das Suas igrejas através da
longitude e da latitude da Terra. Ele as assiste com intenso interesse para ver
se elas estão em tal condição espiritual que possam avançar para Seu reino.
Cristo está presente em cada assembléia da igreja. Ele está ligado a cada um
que se encontra envolvido no Seu serviço. Ele sabe quais corações Ele pode
encher com o óleo santo, para que estes dividam-no com outros.”
Testimonies,
Vol. 6, págs. 418, 419
“Pudessem nossos olhos ser
abertos, e poderíamos ter visto Jesus em nosso meio com seus santos anjos.
Muitos sentiram sua graça e Sua presença em rica medida.... Nós sabemos que o
Salvador, perdoador dos pecados, estava em nosso meio.... Eu sabia que Jesus
estava em nosso meio.”
1888
Materials, págs. 58, 59
Mais Dúvidas:
Bem, se tivessemos
certeza que o texto em questão é de autoria de Ellen White, creio que os
argumentos acima explanados são suficientes para explicá-lo fora da perspectiva
trinitariana.
Destacamos a condicional “se”
porque não existem provas conclusivas de que este texto, extraído de um suposto
“manuscrito 66”, seja irrefutavelmente de autoria de Ellen G. White.
Analisemos as mais recentes
descobertas feitas por Ennis Meier nos arquivos da Conferência Geral em
Washington, que ele assim relata:
“No
dia 2 de Agosto de 2004, fui ao White Estate tratar de conseguir uma cópia do
“Manuscript 66” citado no livro Evangelismo pág. 416 em Português. Quem
primeiro me atendeu simplesmente deu uma cópia do livro Manuscript Releases nº
7 Pág. 299. Como não aceitei, fui atendido pelo Sr.Tim Poirier (Vice-diretor do
White Estate), que me trouxe uma cópia carbono datilografada, com anotações
manuscritas, onde se encontram o dizeres do livro Evangelismo.”
Veja
logo a seguir uma cópia deste documento:
A parte que
destacamos entre colchetes vermelhos contém o seguinte texto:
“...and we
need to realise that the Holy Spirit, who is as much a person as god is a
person, is walking through these grounds,...”
Tradução:
“...e
precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o
próprio Deus, está andando por estes solos,...”
É
interessante observar que existe um erro de ortografia (“realize” é com “z” e
não com “s).
No final
desta frase (logo acima da palavra “grounds”) aparece escrito na forma
manuscrita:
“Non
seen by human eyes” (Tradução: “Não visto
por olhos humanos”)
O White
Estate entende que estes apontamentos manuscritos feitos no documento são do
próprio punho de Ellen White, muito embora não tenham realizado nenhum teste
grafotécnico que comprovasse isto de forma incontestável.
O
“Manuscrito 66” são cópias de papel carbono em papel muito fino, contendo
muitas páginas com poucas anotações entre linhas feitas de caneta tinteiro
sobre a cópia de papel carbono, não apresentando qualquer rúbrica ou assinatura
de Ellen White. Portanto, este é o famoso “Manuscrito 66” que aparece na pág.
616 do livro Evangelismo da seguinte forma:
“We need
to realize that the Holy Spirit, who is as much a person as God is a person, is
walking through these grounds.”
Tradução:
“Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma
pessoa como o próprio Deus, está andando por estes caminhos.”
Segue a
cópia da pág. 616 do livro Evangelismo em português:
A
primeira pergunta que fazemos é: Por que ao usarem este “Manuscrito 66” como
fonte, não incluíram a complementação feita posteriormente de forma manuscrita?
(especialmente se consideram que foram feitas do próprio punho de Ellen White).
Pare
para pensar um pouco: Estão querendo nos dizer que Ellen White escreveu
coisas sensíveis como esta! Mas perceba que este texto não faz parte de um
original enviado para publicação, mas de um rascunho de uma palestra que ela
havia feito na igreja de Avondale - Austrália (está escrito logo no início da
página: “Extrato do discurso feito [passado] por Ellen G. White na
igreja de Avondale”). E agora, apresentam estes escritos como revelações de
suma importância que mudaram a corrente doutrinária da Igreja Adventista do
Sétimo Dia.
Existem
questões em torno deste “Manuscrito 66” que carecem de respostas:
·
Se ele é o esboço de uma palestra que Ellen White fez em
Avondale, será que ela mesma transcreveu sua palestra logo após te-la
proferido?
·
Não seria mais normal Ellen White apenas ler um discurso
“previamente” escrito?
·
Não seria mais razoável Ellen White fazer um esboço do que
deveria falar?
·
Não parece estranho alguém transcrever uma palestra que
acabou de fazer, datilografar isto, e depois fazer anotações a mão ou riscar
frases inteiras corrigindo com caneta?
·
Não seria mais compreensível uma outra pessoa ter anotado
e escrito o discurso por ela proferido?
·
Não é estranho o texto começar com aspas, sendo que ela
não tinha o costume de colocar aspas em seus escritos?
·
Não parece ilógico Ellen White procurar lembrar do que
falou, depois modificar o que lembrou, e ainda colocar entre aspas as suas
próprias palavras?
·
Como apoiar uma mudança doutrinária tão significativa com
base em textos tão questionáveis como este?
·
Se Ellen White escreveu dúzias de livros, por que usam
como base para a mudança para a crença na trindade escritos questináveis
apresentados em papel rascunho?
Quando
um rascunho causa tanto impacto na doutrina de uma igreja, isto pode significar
que seus líderes devem estar tão desejosos de fazer valer seu ponto de vista
doutrinário, que usam qualquer coisa em detrimento da Bíblia.